segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Teatro da Dor


Queria ser um verme e me alimentar do que está morto

Ingerir minha alma putrefeita em vez das migalhas

Anseio por ódio

Talvez assim teria forças pra seguir em frente

Mas a memória é uma ilha

E nela eu me perdi

E assim nos perdemos

Não mais existo

Existi algum dia?

Essa ausência é corrosiva

A abstinência que segue a frugalidade me seria menos aviltante

Mas o que tem de atraente nessa falta sem sentido?

E que falta é essa que sinto?

Ilusões injetadas através da retina alheia?

Queria que a minha se apagasse

Rogo por minha extinção a cada despertar

A ebriedade é efêmera

Mas abraça-me com redenção

Como varias vezes fizeste

Assim como teu fluido incolor

Afoga em cores meu semblante cinza

Como um hímen dilacerado

Meu apego segue amorfo

E ferindo-me até a alma

A face esclerótica e a mira primitiva

A poma pontiaguda e sem coração

Corta minha alma até a carne

Num corpo hiperativamente sem princípios vitais

Converte-se numa miosote intricada

E faz de mim um títere colérico

Que com horror segue figurante

No teatro de bonecos


 
 
Anubis

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