Queria ser um verme e me alimentar do que está morto
Ingerir minha alma putrefeita em vez das migalhas
Anseio por ódio
Talvez assim teria forças pra seguir em frente
Mas a memória é uma ilha
E nela eu me perdi
E assim nos perdemos
Não mais existo
Existi algum dia?
Essa ausência é corrosiva
A abstinência que segue a frugalidade me seria menos aviltante
Mas o que tem de atraente nessa falta sem sentido?
E que falta é essa que sinto?
Ilusões injetadas através da retina alheia?
Queria que a minha se apagasse
Rogo por minha extinção a cada despertar
A ebriedade é efêmera
Mas abraça-me com redenção
Como varias vezes fizeste
Assim como teu fluido incolor
Afoga em cores meu semblante cinza
Como um hímen dilacerado
Meu apego segue amorfo
E ferindo-me até a alma
A face esclerótica e a mira primitiva
A poma pontiaguda e sem coração
Corta minha alma até a carne
Num corpo hiperativamente sem princípios vitais
Converte-se numa miosote intricada
E faz de mim um títere colérico
Que com horror segue figurante
No teatro de bonecos
Anubis
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